Os assassinatos de três policiais militares e a tentativa de homicídio de outros três, ocorridos apenas este ano, começam a levar um clima de intranquilidade aos PMs, que já adotam medidas de resguardo em seu dia a dia. Há a suspeita de que a ação dos criminosos possa ter como motivação aval dado pela direção do Primeiro Comando da Capital (PCC) aos seus integrantes regionais para matar.
De acordo com policiais militares que preferiram não se identificar por medo de represálias, os ataques são articulados. "Quem está na rua (policiais) sabe muito bem disso. O bandido não executa um policial sem autorização", disse um PM de Santos. Alguns já evitam fazer o trajeto de casa para o trabalho vestidos com a farda. "Trabalho em São Paulo e saio às 4 horas. Vários policiais vivem tal situação", conta o PM. Ele revela que possui colegas que param em postos de gasolina para trocar de roupa antes do retorno para casa.
Para o PM, o comando não dá respaldo para os policiais. O principal argumento dos policiais entrevistados é que faltam ações organizadas mais fortes, o que acaba permitindo que os criminosos ganhem mais espaço e ousadia. "Eles (comando) dizem que não, mas apesar dos policiais mortos não terem contato, as mortes não são fatos isolados. Os marginais matam cada vez mais policiais e nada é feito". Sobre a morte do soldado Luís Fernando Gmeiner Amieiro, na última sexta-feira, o policial revelou que o colega assassinado tinha um "bico" perto do local onde foi morto.
Ataques
Na tarde da última sexta-feira, o soldado Luís Fernando Gmeiner Amieiro, 40 anos, foi sequestrado e executado. À noite, seu corpo foi encontrado no aterro sanitário de São Vicente, no Sambaiatuba. Ainda não se sabe a razão e os autores do assassinato, com requintes de crueldade, e tampouco o que o policial fazia no Caminho São José, local onde foi sequestrado. Formado por palafitas, o bairro separa a Zona Noroeste, em Santos, de São Vicente na altura do Sambaiatuba. Para lá Amieiro foi levado de barco e executado com um tiro no céu da boca que atravessou a cabeça.
Na manhã do mesmo dia, um tenente e dois soldados sofreram atentado no Paecará, Vicente de Carvalho, em Guarujá. Homens armados em dois veículos roubados cercaram a viatura e iniciaram os disparos. Mais de 160 projéteis foram encontrados na cena da ação. Os policiais sofreram ferimentos superficiais e passam bem. O comandante interino do 21º BPM/I, major José Messina Filho, declarou a A Tribuna na ocasião que a equipe atacada era "linha de frente". Indício para a escolha dos alvos por parte do PCC. Em 12 de janeiro, o soldado Angelo Santos Cruz, lotado na Capital, foi executado enquanto estava num ponto de ônibus, em São Vicente. Já Fábio Lopes Apolinário, do 29º BPM/I, foi assassinado em 28 de fevereiro quando saía da casada mãe, em Santos.
Polícia não está acuada, diz Del Bel
O comandante do Centro de Policiamento do Interior (CPI) 6, coronel Sérgio Del Bel, refuta as acusações feitas pelos policiais. "O comando não está acuado. Todo policial que se sentir ameaçado será atendido e protegido pela corporação". Ele foi enfático ao dizer que os assassinatos não possuem relação e que não há nada que indique ação coordenada da facção criminosa PCC. Del Bel disse que é preciso ter cuidado com o tipo de ação desejada pelos policiais.
Para ele, a PM deve agir dentro da legalidade e não sair por aí matando como vingança. "Estamos lá na região do dique (onde o policial Luís Fernando Gmeiner Amieiro foi assassinado), em operação, dando uma prensa no tráfico e levantando informações sobre a morte do soldado". De sexta-feira até ontem, 51 indivíduos foram presos em flagrante, 12 procurados foram recapturados, oito armas foram apreendidas e 33 veículos recuperados. Números usados por Del Bel para justificar que a PM não está acuada.
"Eu passei por várias polícias. Uma delas era a romântica, onde o bandido tinha medo da polícia. Temos de respeitar a opinião da tropa, mas não é mais assim". A Corregedoria da Polícia Militar está na região não apenas para auxiliar nas investigações. De acordo com informações apuradas pela Reportagem, o intuito é também evitar que a ânsia dos policiais se transforme em ações como a vista há um ano, quando uma onda de assassinatos atribuída a grupos de extermínio assolou Guarujá, Santos, São Vicente e Praia Grande.
Investigação
Segundo Del Bel, as investigações sobre a morte do soldado Amieiro avançaram. As informações levantadas pela PM são transmitidas à Polícia Civil, encarregada da investigação. "Identificamos alguns possíveis mentores e executores. Tudo está em fase preliminar porque precisamos das provas materiais. Acusar alguém sem materialidade não adianta", explica o coronel. Pelotões da Tropa de Choque e da Força Tática reforçam o policiamento na região por tempo indeterminado. Conforme Del Bel, o objetivo é trazer mais segurança para a tropa e para a população.
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